Uma Igreja com rosto afrodescendente, viva e sinodal

Reunidos no XVI EPA, na Arquidiocese de Mercedes-Luján, casa da Padroeira da Argentina, entre os dias 3 e 7 de novembro de 2025, mais de 144 representantes das Pastorais Afro-americanas e Caribenhas: México, Honduras, Costa Rica, Panamá, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Brasil, Paraguai, Uruguai e o país que nos acolhe: Argentina. Oramos, refletimos e analisamos, em espírito de sinodalidade, fé, esperança e resistência, os clamores mais urgentes que atravessam a vida de nossos povos: a invisibilização persistente, o racismo estrutural e sistêmico e a migração com rosto afrodescendente.
- Esses clamores não são novos; são feridas abertas que clamam por respeito, justiça e dignidade. Nós nos ouvimos, compartilhamos realidades e reconhecemos que nossa história e nossa fé não podem continuar sendo marginalizadas ou excluídas dentro da Igreja ou da sociedade. Ao mesmo tempo, elas nos chamam à esperança a partir de nossa ancestralidade como sinal profético.
- À luz do Evangelho, do ensinamento do Papa Francisco, discernimos que uma Igreja sinodal não pode ser construída sem a plena inclusão dos povos afrodescendentes. O tema deste EPA nos convida a uma conversão pastoral efetiva: “Os afrodescendentes: seus clamores e suas esperanças dentro de uma Igreja sinodal” não é apenas um slogan, é um chamado urgente para construir uma Igreja do encontro, da comunhão para a missão, onde ninguém fica para trás e onde cada voz — também a afrodescendente — tem lugar, dignidade e missão.
O compromisso que assumimos
- O Papa Leão XIV, em sua Exortação Apostólica “Dilexi Te” (“Eu te amei”) sobre o amor aos pobres, nos desafia ao dizer: “Quem diz amar a Deus e não tem compaixão pelos necessitados, mente”. Por isso, com esperança cristã, espírito profético e em chave de sinodalidade, nos comprometemos com ações concretas que transformem estruturas, consciências e práticas:
- Reconhecimento estrutural: Exigimos o reconhecimento formal e explícito dos afrodescendentes como parte constitutiva do Povo de Deus em documentos eclesiais, planos pastorais e estruturas de participação.
- Visibilidade de nossas histórias e espiritualidades: Continuaremos a dar visibilidade às nossas realidades a partir de nossas vozes, nossas espiritualidades e nossas memórias coletivas, promovendo uma Igreja mais inclusiva e representativa.
- Racismo estrutural e sistêmico: Combateremos o racismo em todos os níveis, dentro da Igreja e da sociedade, a partir de uma pastoral decidida e formadora de consciência crítica para descolonizar as mentes e as estruturas.
- Formação integral afrodescendente: Fortaleceremos nossos processos de formação por meio de escolas de liderança da pastoral afro-americana e caribenha, em coordenação com o CEBITEPAL.
- Mecanismos de comunicação: Teremos mecanismos de comunicação permanente, utilizando as novas plataformas digitais, a inteligência artificial e os meios de comunicação estabelecidos na Igreja.
Caminhamos com esperança.
Celebramos, acolhemos e abraçamos com alegria e esperança profética a presença dos jovens que levantam suas vozes para serem ouvidos; a presença dos avós que nos estimulam com sua paciência e sabedoria; e a presença viva do povo de Deus que não se deixa intimidar pelas dores, mas, como Manuel, se fortalece na fé para viver a caridade.
Agradecimento
Agradecemos ao CELAM, sua acolhida e acompanhamento na realização deste XVI EPA.
Ao Padre Bispo, Dom Juan José Chaparro, e à sua equipe diocesana e nacional por terem acolhido, como experiência nova do Espírito, este momento especial na vida da Igreja que nos coloca aos pés da Virgem e da figura de Manuel de Lujan.
A Dom Zanoni Demettino Castro, bispo de referência da Pastoral Afro, por sua sabedoria e paciência nesta caminhada.
Aos demais bispos que, com seu testemunho simples e próximo, nos acompanham. A todos eles, dizemos: obrigado por sua presença.
A todos os participantes vindos de toda a América Latina e do Caribe, agradecemos por acompanharem este evento que nos enche de alegria, nos torna mais irmãos e nos abre à esperança.
O XVI EPA não termina, mas dá início a uma nova etapa de implementação pastoral em chave sinodal. Porque o Espírito nos impele a passar da resistência silenciosa à incidência profética, da marginalização à dignificação, da contemplação à transformação. Ele nos abre com esperança para olhar para os jovens que, a partir do silêncio e da escuta, estão dispostos a caminhar e iluminar os processos que nos levam à inclusão efetiva.
Confiamos com confiança a Nossa Senhora de Luján, Mãe dos pobres, refúgio dos povos e estrela de esperança para nossa pastoral e nossa Igreja.
Que ela, que não se move de onde seus filhos precisam dela, nos ensine a permanecer firmes, como Manuel, humilde servo e fiel guardião de sua imagem, dispensador incansável do amor e da caridade de Deus, a manter viva a chama da esperança que nunca defrauda.
Maria de Luján, interceda por nós! Manuel de Luján, ensine-nos a amar servindo!
Luján, 7 de novembro de 2025